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Foto do escritorVanessa Marsden

Survivor guilt ou "culpa por ter sobrevivido"


Após mais de um ano de pandemia e lendo sobre o prédio que desabou em Miami, lembrei-me de uma condição muito pouco discutida, mas pertinente : Survivor´s guilt. Eu nem mesmo sei qual é a tradução oficial do termo, mas deve ser Culpa de Sobrevivente ou algo do gênero. É mais uma daquelas expressões em psicopatologia que desaparecem de critérios diagnósticos mas que continua pertinente na discussão de casos em psicologia-psiquiatria.


O dicionário Thesaurus define a expressão como um sentimento profundo de culpa experimentado por aqueles que sobreviveram alguma catástrofe que ceifou a vida de muitos outros. A culpa é derivada em parte de um sentimento que o indivíduo não fez tudo o que poderia para salvar os que morreram e em parte de sentimentos de não merecer viver, se comparado aos que morreram. Survivor guilt foi primeiramente identificado nas vítimas que sobreviveram ao Holocausto. Survivor guilt é uma condição mental que ocorre quando alguém percebe-se como em erro por ter sobrevivido um evento traumático. Pode ser identificado em sobreviventes de combate, desastres naturais (como a pandemia) , e entre os que sobrevivem um amigo ou familiar que cometeu suicídio. O termo é até mesmo empregado no mundo cooperativo para definir a culpa dos empregados que sobreviveram um corte na empresa.

Survivor guilt após suicídio de um familiar ou amigo O luto pela perda de um amigo ou familiar por suicídio é um processo único a cada indivíduo. Junto com a dor da perda, familiares e amigos podem sentir culpa intensa e ansiedade; um sentimento de que de alguma forma são culpados pelo acontecido. Os sobreviventes ao suicídio de uma pessoa próxima geralmente pensam que não fizeram o suficiente para salva-lo(a). A culpa é frequentemente maior no caso da pessoa que encontrou o corpo do familiar\amigo. Essa pessoa geralmente inicia uma espiral de "porquês" e "e se..." e sente uma profunda conexão com a vítima. Quando o choque imediato passa, o indivíduo sente-se desesperançado, com dúvidas permanentes sobre o porquê de não ter sido capaz de prevenir esta tragédia. Muitos pacientes relatam ter reexaminado todo o seu sistema de crenças e ter dificuldades para confiar no mundo ao seu redor. Além disso, o suicídio em nossa cultura é geralmente visto fonte de vergonha e falência pessoal e as crenças religiosas da família podem ser dolorosas no que tange ao assunto e não prover apoio necessário. Os familiares que passam pela perda de alguém por suicídio devem ser lembrados que não estão sozinhos e alertados para o fato de que cada membro passa pelo processo de luto de forma diferente. Cada familiar tem seus próprios assuntos não resolvidos com o falecido e seus próprios mecanismos de coping. No caso do quadro de Survivor's guilt estabelecido, o paciente pode ser indicado para grupoterapia, onde poderá conversar com outros familiares que perderam entes queridos por suicídio e reconhecer que não está só nas suas dúvidas e medos. Também é importante desempenhar tarefas que mantenham a memória do ente querido presente, como plantar uma árvore em sua memória, um jardim ou fazer um livro de memórias. Se o sentimento de culpa tornar-se tão forte que impede o desenvolvimento de atividades de vida diária, deve-se encorajar a procura por acompanhamento profissional (psicólogo ou psiquiatra para uma avaliação inicial do quadro).

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